domingo, 31 de maio de 2009
Manifestação: Professores voltaram aos protestos em Lisboa- 80 mil chumbam política da ministra
Cerca de 80 mil professores, metade da classe docente, de todo o País, manifestaram-se ontem em Lisboa.
Durante duas horas, a avenida da Liberdade, entre o Marquês de Pombal e os Restauradores, voltou a encher-se de docentes, insatisfeitos com as políticas educativas.
Carlos Azedo é professor de Educação Física há 25 anos e foi de bicicleta para o protesto. "Estou a dar o exemplo aos alunos, é uma forma de reduzir emissões de CO2", explicou.
O docente de Serpa exige o "regresso da democracia directa à gestão escolar", mostrando-se contra a introdução da figura do director de escola.
Do Norte do País viajou Dora Faria, educadora-de-infância numa escola privada em Vila Nova de Famalicão. Concorda com a avaliação de desempenho, "mas não desta forma".
A docente lamentou que, nos concursos, os colegas do ensino público, "só com um mês de aulas, passem logo à frente dos do privado".
Nem os mais de 30 graus que se fizeram sentir na capital demoveram os professores de desfilar com cartazes, bandeiras e estandartes. À frente, seguiram os representantes das várias estruturas que integram a Plataforma Sindical.
Nos Restauradores, o discurso de Mário Nogueira foi aclamado pelos milhares de professores. O porta-voz da Plataforma Sindical e secretário-geral da Fenprof considerou a manifestação "grandiosa" e uma "lição de dignidade para quem há-de levar com mais lições." Sobre o Governo de José Sócrates, o dirigente sindical disse ser difícil dialogar. "Não que a maioria absoluta não seja democrática, mas com alguns governos, nomeadamente o socialista, o diálogo não é possível". Sobre a demissão da ministra, que tem sido exigida pelos professores, afirmou: "Quem se aguentou quatro anos aguenta-se mais três meses."
"É UM MODELO REPROVÁVEL" (Mário Nogueira, Porta-voz da Plataforma Sindical)
Correio da Manhã – Esta manifestação prova todo o descontentamento dos professores?
Mário Nogueira – Quando toda a gente pensava que era um momento de cansaço e de desgaste, quem olha vê que os professores não deixaram de acreditar que têm razão. Mais nenhuma classe profissional deste País mete 50 mil trabalhadores na rua.
– Um protesto a uma semana das eleições é positivo?
– 0s portugueses querem que os partidos assumam compromissos. É uma altura propícia para que digam o que pretendem fazer para a Educação.
– Aceita a substituição dos conselhos executivos por directores?
– É um modelo reprovável. Passam a prevalecer os interesses políticos e administrativos pela forma como têm sido escolhidos os directores.
CANDIDATA PROFESSORA FOI SAUDADA
Ilda Figueiredo, candidata da CDU às Europeias, também participou na manifestação dos professores e considerou que a defesa da Escola pública é essencial na "educação de qualidade das crianças e jovens do País".
Ilda Figueiredo manifestou o apoio da CDU à causa dos professores e afirmou que os profissionais precisam de estar motivados e de ser respeitados para que possam "exercer cabalmente a sua actividade".
Questionada pelo CM sobre se a sua presença não poderia ser entendida como uma partidarização da manifestação, a candidata comunista explicou que, "apesar de não estar a exercer, sou professora".
Na manifestação de ontem, não foram apenas os professores sindicalizados a marcar presença. Henrique Faria, professor de Educação Visual numa escola de Braga, disse ser um "desalinhado" por não integrar sindicatos.
Sobre a actualidade nas escolas, o professor de 41 anos queixou-se da "falta de autoridade" e pediu "maior responsabilização por parte dos pais". Apesar de ter entregue os objectivos individuais, obrigatórios, o professor, que dá aulas há 15 anos, mostrou-se "saturado" com o modelo e a burocracia.
Queixas partilhadas por Nuno Cardoso, professor do 1º ciclo em Odivelas. "O modelo tem muitas ambiguidades, prejudica os alunos."
O docente, de 32 anos, e com cinco de profissão critica a introdução da prova de aferição à entrada da carreira. "É uma resposta negativa à capacidade do Ensino Superior em formar professores", afirmou ao CM.
O receio de ser penalizado levou-o a entregar os objectivos individuais para a avaliação de desempenho. "Não há democracia, porque o Ministério não negoceia as propostas." É no 1º Ciclo que as crianças mais precisam de atenção. "O actual modelo não nos dá tempo para nos dedicarmos aos alunos."
QUATRO ANOS DE "DITADURA DA INTIMIDAÇÃO"
Nos Restauradores, os 80 mil docentes aprovaram uma moção em que alertam os candidatos a deputados para a urgência de uma "mudança radical na política educativa". No documento é criticada a "imagem socialmente negativa" criada em torno da classe nos últimos anos. "O Governo fez da maioria absoluta uma arma de arremesso contra a Escola Pública e contra os professores, transformou a maioria absoluta na ditadura da incompetência, arrogância e intimidação."
MINISTRA GARANTE QUE NÃO VAI RECUAR
Enquanto em Lisboa metade da classe docente protestava contra as políticas do Governo socialista, em Vila do Conde a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, entregava diplomas a alunos de um Centro de Novas Oportunidades. Sobre a manifestação, a ministra referiu que "os professores têm o direito a manifestar a sua insatisfação e o Governo tem o dever de prosseguir com as políticas públicas em defesa das escolas públicas".
DEPOIMENTOS
"POUCO TEMPO PARA DEDICAR ÀS CRIANÇAS" (Manuela Nunes, 1.º Ciclo, Almancil, Loulé)
"Gostava de ver mudado o actual modelo de avaliação porque obriga a fazer demasiados relatórios e deixa pouco tempo para nos dedicarmos às crianças. Apesar de ser professora titular, não concordo com a divisão por categorias."
"MODELO FAZ UMA PSEUDO-AVALIAÇÃO" (Maria João, 2.º Ciclo, Inglês/Alemão, Figueira da Foz)
"Concordo com a avaliação, mas não com este modelo de pseudo-avaliação. Gostaria de ser avaliada por alguém com capacidades para o fazer. Não entreguei os meus objectivos pessoais nem concordo com a divisão da carreira."
"SITUAÇÃO DESCEU DEMASIADO BAIXO" (José Lucas, 2.º Ciclo, História/Português, Coimbra)
"Não falho uma manifestação porque a situação do ensino já desceu demasiado baixo e o balanço é trágico. As escolas têm tarefas que não têm nada que ver com o ensino. Professores, alunos e escolas estão divididos."
"AMBIENTE DE POUCA EXIGÊNCIA COM ALUNOS" (Sérgio Valente, 2.º Ciclo, Matemática, Almada)
"Estou contra o actual modelo de avaliação e contra o estatuto da carreira de docente. O Ministério da Educação fomenta um ambiente de pouca exigência para com os alunos. É algo que gostaria de mudar."
NOTAS
SILÊNCIO: BOCA TAPADA
Na manifestação, algumas professoras ‘taparam’ a boca com autocolantes com a imagem da ministra e do primeiro-ministro, José Sócrates, em protesto contra as políticas na Educação.
PAULO PORTAS: ACUSA MINISTRA
Paulo Portas (CDS-PP) disse que a prioridade na Educação deve ser repor a "autoridade dos professores" nas escolas e acusou a ministra de querer "virar o País inteiro" contra os docentes.
FRANCISCO LOUÇÃ: CONTRA A PREPOTÊNCIA
Francisco Louçã, líder do Bloco de Esquerda, apoiou os professores que se manifestaram em Lisboa e afirmou estar contra a "prepotência do absolutismo do Ministério da Educação".
Edgar Nascimento / Valter Anacleto
in www.correiomanha.pt
Nota - estive presente nesta manifestação
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